O fenômeno da polarização política sempre existiu no Brasil. Desde o início da redemocratização, direita e esquerda protagonizam grandes disputas presidenciais, com pouco espaço para as chamadas candidaturas de terceira via. Entretanto, nos últimos anos, temos assistido à radicalização da polarização, com maiores embates entre apoioadores do presidente Luis Inácio Lula da Silva e do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Com a proximidade das eleições municipais, a pergunta que nos fazemos é: esse cenário vai se repetir em 2024? A polarização terá peso nos resultados das urnas? A resposta para essa questão requer análise mais aprofundada.
Em eleições municipais, a tendência é que haja um arrefecimento do clima de tensão da política polarizada, uma vez que os embates nacionais ficam mais distanciados. O eleitor passará a votar de forma menos ideológica e mais prática, pensando no cotidiano da cidade e no bem-estar de seus familiares. Dessa forma, na hora de escolher, o cidadão estará mais preocupado com asfalto na rua, médicos no posto de saúde e educação de qualidade do que com o apoio de A ou B.
Mas é fato que Lula e Bolsonaro irão se empenhar para eleger o maior número possível de prefeitos aliados, especialmente nas capitais e em cidades com mais de 200 mil eleitores, onde poderá haver segundo turno. Eles devem dar especial atenção ao eixo Rio/São Paulo.
Na capital paulista, Lula já confirma apoio a Boulos e, inclusive, os dois participaram de evento com assinatura de obras no fim do ano passado. Nos bastidores, comenta-se que o presidente deverá colocar boa parte de seus ministros em campanha a favor do candidato do PSOL. Por outro lado, Ricardo Nunes já tem o apoio confirmado do governador Tarcísio de Freitas e também vem recebendo acenos de Bolsonaro para uma aliança.
No Rio de Janeiro, o atual prefeito, Eduardo Paes, busca a reeleição e deverá contar com o apoio de Lula. Entre seus principais adversários deverá estar o delegado da Polícia Federal, Alexandre Ramagem, que ganhou destaque no governo de Bolsonaro por ter chefiado a Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Situações semelhantes, de disputas entre candidatos apadrinhados, devem se repetir em capitais de todo país.
Já nas cidades de pequeno porte, os efeitos da polarização devem ficar mais dissipados. A saúde econômica, com geração de emprego e renda, é um dos principais pontos de influência de votos. Nos municípios com economia baseada no agronegócio, a tendência é que haja maior taxa de eleição de candidatos de direta. Já na região Nordeste, onde há muitos municípios com alto índice de moradores beneficiados pelas políticas públicas de distribuição de renda, tradicionalmente, elege-se mais prefeitos de esquerda.
Todas essas análises são hipotéticas, baseadas nos cenários de eleições anteriores. Muitas tendências vão se confirmar. Outras não.
A verdade é que, em qualquer que seja a localidade, para vencer as eleições, os candidatos precisarão conhecer as cidades, entender os anseios dos eleitores e apresentar soluções consistentes para os desafios apresentados. Seja nas capitais ou nas cidades de pequeno porte, os apoios de Lula ou de Bolsonaro poderão ajudar, mas não serão decisivos.
*Wilson Pedroso é consultor eleitoral e analista político com MBA nas áreas de Gestão e Marketing